segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

GIGANTES EM DUELO: A CIDADE VILÃ E O SEU FILHO BASTARDO



Clifton será, por ventura, a cidade mais limpa do oeste. A poeira da rua praticamente não suja os alpendres imaculados e as fachadas coloridas. Sim, Clifton será, por ventura, também a cidade mais colorida do oeste. Um paraíso numa terra então tão violenta e ainda por desbravar, poderíamos pensar, mas a realidade é muito mais simples, pois nem tudo o que luz é ouro…

E é nesta cidade que vamos conhecer Scott (Giuliano Gemma), um jovem órfão que executa tarefas de limpeza na cidade, entre as quais a nobre limpeza das latrinas. Scott, filho de uma prostituta chamada Mary, é filho de pai incógnito e, como tal, filho da própria cidade. Um filho desprezado, um filho bastardo, um incómodo, mas filho da cidade. Um filho que não pode entrar pela porta principal do saloon, que está proibido de falar com a filha jovem e casadoira do juiz. Tolerado por ser necessário, pois a cidade precisa de quem a livre dos dejetos que produz, este filho indesejado deseja possuir uma arma e conta os tostões para a comprar enquanto treina afincadamente com uma pistola de madeira. Scott sonha fazer-se respeitar e numa terra violenta, a única forma de se fazer respeitar era através da voz das armas.

Mas a esta cidade vilã um dia chega Frank Talby (Lee Van Cleef), que tal como Giuliano Gemma, estava no auge da sua forma e interpreta um dos papéis mais carismáticos da sua carreira, um homem que personificou personagens tão marcantes no género como o Coronel Mortimer de Por Mais Alguns Dólares” e o Mau de “O Bom, o Mau e o Vilão”. Talby é um personagem intrigante, de início é impossível não simpatizarmos com ele. Protege o jovem órfão e desmascara os notáveis habitantes de Clifton, afinal, cúmplices num roubo de milhares de dólares, bandidos de casaca numa cidade limpa mas com a alma suja. Mas Talby é um pistoleiro ambicioso e pretende apoderar-se da cidade e não olha a meios, mesmo os mais violentos, para conseguir o que quer. 
 Entretanto, Scott já se metamorfoseara, e ganhara a estima e a consideração de Talby ao salvar a vida deste. Scott já matara os seus primeiros homens e fazia-se agora respeitar e temer à lei da bala que é brilhantemente explicado neste breve diálogo:

- Ele parece um lobo raivoso. – Diz o médico enquanto tratava de uma ferida de Talby.
- Ele nasceu lobo, vocês é que o tornaram raivoso. – Contrapõe Talby.

Mas aos poucos Scott vai-se desencantando com os métodos e com o modo de vida de Talby e os notáveis de Clifton tentam convencê-lo a mudar de lado e enfrentar Talby e o próprio juiz não tem pudor nenhum em utilizar a filha casadoira para este fim. A jovem prova ser indubitavelmente uma verdadeira e nada inocente representante da fina flor do entulho de Clifton. Ironicamente, as personagens mais simpáticas do filme são precisamente os melhores amigos de Scott e, como ele, refugo. São eles, Murph Allan Short (Walter Rilla) o velho pistoleiro, agora a trabalhar num estábulo, que ensina Scott a sacar e que tenta avisar o jovem lobo sobre as intenções de Talby, como é de calcular, este faz orelhas moucas. É uma das figuras paternais de Scott. Temos Bill, o Cego, interpretado por José Calvo, o Silvanito de “Por Um Punhado de Dólares”, que é cego de um olho e o sem-abrigo oficial da cidade e temos Gwen (Christa Linder) a prostituta com coração de ouro que nunca deixa de apoiar Scott. Entramos aqui no campo da feroz crítica social, um ataque às sociedades elitistas e ao modo como tratam os menos afortunados. Exemplo maior é quando Abel Murray (Andrea Bosic), o dono do saloon, dispara uma descarga de chumbo no traseiro de Bill para gáudio dos notáveis de Clifton, só porque o pobre desgraçado, para matar o tédio, entretinha-se a atirar pedras para dentro de umas garrafas vazias que Murray pretendia reutilizar. O acontecimento é considerado por quem vê como “Nada de sério.”

Voltemos a Talby, ele sabe que precisa de Scott para dominar a cidade mas tem um inimigo poderoso, a intrínseca bondade de Scott, afinal, a cidade vilã parira um ser humano onde menos se esperava, no ventre de uma prostituta, refugo da sociedade, mas pior do que tudo, Talby criara um herói quando queria criar um guarda-costas. Afinal, Talby dera-lhe um sobrenome no seu primeiro encontro, “Como se chamava a tua mãe?”, “Mary.”, Respondeu Scott, “É um nome tão bom como outro qualquer. Porque não te chamas Scott Mary?” Ao contrário do que pode pensar, a relação Talby-Scott não é uma simples relação professor-discípulo, Talby, inadvertidamente, estava simplesmente a criar o homem que o deteria, que o mataria. Mas nesta altura já não nos importamos, Talby já não é um personagem simpático, Talby é apenas um vilão que criou um dos melhores heróis do género, Scott Mary, um verdadeiro paladino da justiça que esteve perto, muito perto, de ceder aos (des)encantos do poder, mas o que é um herói sem um Nemésis? Scott-Talby, aluno-professor ou herói-nemésis? Simplesmente dois dos personagens mais fascinantes do género numa variação muito própria do complexo de Édipo, afinal, Talby não deixa também de ser uma figura paternal. Scott para se tornar adulto teve de se submeter à influência e aos ensinamentos de dois pais, Talby e Murph Allan Short, e à influência de uma mãe, a cidade de Clifton, que o rejeitou, mas não o derrotou, só o tornou mais forte. Afinal, se calhar, os heróis não se criam, nascem heróis.
Cartaz publicitário da época

Tonino Valerii, que começou no meio como assistente de realização de Sergio Leone, realiza com mestria este western psicológico e violento, onde tudo funciona, desde o argumento ao elenco, da música ao cenário. Valerii realizou ainda outros grandes westerns como o brilhante “O Meu Nome é Ninguém”, com Henry  Fonda e Terence Hill,  e outras pérolas como “O Preço do Poder”, com Giuliano Gemma, “Uma Razão para Viver e uma para Morrer”, com James Coburn e Bud Spencer ou “O Prazer de Matar” com Craig Hill.

A música de Riz Ortolani é eficaz, embora não sendo das minhas preferidas, e já foi utilizada por Quentin Tarantino nas duas partes de “Kill Bill”  e em “Django Libertado”. A.

António Furtado da Rosa


Trailer:

 

terça-feira, 17 de junho de 2014

TRAILER | GRINGO NÃO PERDOA (1967) | CICLO WESTERN SPAGHETTI

Trailer do filme “Gringo Não Perdoa”, realizado por Giorgio Ferroni em 1967 que será exibido no âmbito do Ciclo de Western Spaghetti em Ponta Delgada no próximo dia 23 de junho. Ciclo que está a decorrer no 9500 Cineclube no Cine Solmar (Sala 2). Relembramos que este ciclo só é possível devido ao amável apoio da Wild East Productions. - http://www.wildeast.net/


terça-feira, 10 de junho de 2014

TRAILER | O PRAZER DE MATAR | CICLO WESTERN SPAGHETTI



Trailer do filme “O Prazer de Matar”, realizado por Tonino Valerii em 1966 que será exibido no âmbito do Ciclo de Western Spaghetti em Ponta Delgada no próximo dia 16 de junho. Ciclo que está a decorrer no 9500 Cineclube no Cine Solmar (Sala 2). Relembramos que este ciclo só é possível devido ao amável apoio da Wild East Productions. - http://www.wildeast.net/


TRAILER | POR MAIS ALGUNS DÓLARES



Segundo filme da trilogia dos dólares de Leone, Por Mais Alguns Dólares que representa magistralmente dois temas recorrentes no género: a ganância e a vingança!


quarta-feira, 4 de junho de 2014

TRAILER | ACABA COM ELES E VOLTA SÓ 1968



Trailer do filme “Acaba Com Eles e Volta Só”, realizado por Enzo G. Castellari em 1968 e que inaugurará o Ciclo de Western Spaghetti em Ponta Delgada no próximo dia 9 de junho. Ciclo que decorrerá no 9500 Cineclube no Cine Solmar Sala 2. Relembramos que este ciclo só é possível devido ao amável apoio da Wild East Productions. - http://www.wildeast.net/