segunda-feira, 1 de outubro de 2012

GiULIANO GEMMA - O GRINGO QUE NÃO PERDOA

Longe das Parangonas das revistas da especialidade, visto até como cinema menor por determinada crítica que nunca entendeu a essência real do Cinema Popular, este gerou nos anos 1960 uma estrela que todos aqueles da minha geração que deambulavam pelos cinemas nas décadas de 70 e 80 do século passado, reconhecem prontamente: Giuliano Gemma, também conhecido como Montgomery Wood, em apenas dois filmes e a contragosto, Ringo ou simplesmente Gringo.
                Nascido em Roma a 2 de Setembro de 1938, completou recentemente 74 anos, cresceu contudo em Reggio Emilia no norte de Itália. Giuliano iniciou-se no cinema como duplo e conseguiu o seu primeiro grande papel em 1962 pela mão de Duccio Tessari em "Arrivano I Titani". Depois de alguns filmes de aventuras que o tornaram conhecido ao lado de Richard Harrison, “O Lobo Vermelho” e “Os Dois Gladiadores” e Mark Forest, “Hércules contra os Filhos do Sol” e o ”Os Libertadores”, em 1965 Duccio Tessari chama-o para protagonizar dois westerns que seriam um imenso êxito, e que o levariam ao estrelato: “Uma Pistola Para Ringo” e o “O Regresso de Ringo”, tornando-o uma das faces mais conhecidas do género, protagonizando êxitos consecutivos como “Um Dólar Furado”, “Adeus Gringo”, “Arizona Colt”, “Os Longos Dias da Vingança” ou “Gigantes em Duelo” onde contracena com Lee Van Cleef num dos melhores westerns italianos.
                Quando o Western Spaghetti já apresentava claros sinais de decadência, interpretou e abrilhantou dois dos mais belos westerns italianos crepusculares, juntamente com “Keoma” com Franco Nero, “Chamavam-lhe Califórnia” de 1977 e “A Sela de Prata” de 1978 e em 1985 foi o rosto do famoso personagem da banda Desenhada Tex Willer, criado por Giovanni Luigi Bonelli,  no filme “Tex, o Pistoleiro”.
                Ouçamos Giuliano Gemma na primeira pessoa, numa entrevista incluída no lançamento do DVD “Day of Anger” (Gigantes em Duelo) e que aqui apresentamos, legendada em português, com a devida e amável autorização de Eric Maché e Ally Lamaj da Wild East Productions.     



© Copyright Wild East Productions
 
I would like to thank Eric Maché and Ally Lamaj, from
 Wild East Productions, for allowing the publication of this interview





quarta-feira, 5 de setembro de 2012

PIERRE BRICE - O ETERNO WINNETOU

A 6 de fevereiro de 1929 nascia em Brest, na região francesa da Bretanha, no seio de uma família aristocrata, Pierre-Louis Le Bris, que ficaria famoso no mundo do cinema como Winnetou, Chefe dos Apaches Mescalero, personagem nascido da imaginação prolífica de Karl May. Brice interpretou Winnetou em onze filmes juntamente com Lex Barker (em 7 filmes como Old Shatterhand), Stewart Granger (em 3 filmes como Old Surehand) e Rod Cameron (num filme como Old Firehand). Repetiu a personagem em duas séries televisivas, em 1979 e 1997, que contudo não foram baseadas na obra de Karl May. Apesar de participar em inúmeros filmes e séries televisivas, Pierre Brice será sempre recordado como o Eterno Winnetou.

A propósito do festival de filmes baseados na obra de Karl May a 24 de Março de 2012, no Cinema Babylon em Belim, Christian Schroeder entrevistou Pierre Brice, entrevista que traduzi e aqui reproduzo, com a devida deferência:
Christian Schroeder: Sr. Brice, conhecia Karl May, quando lhe ofereceram em 1962 o seu primeiro grande papel como Winnetou?
Pierre Brice: Não, nunca tinha ouvido falar de Karl May. Em França, ele era desconhecido. Líamos Alexandre Dumas e Jules Verne.  Por isso, não estava particularmente interessado em aceitar a oferta. O papel de Old Shatterhand parecia-me muito mais interessante. Mas o meu amigo e também meu agente, finalmente convenceu-me a aceitar o papel.

CS: Qual foi o primeiro livro de Karl May que leu?

PB: Penso que foi “O Tesouro do Lago da Prata”. Mais tarde li os outros livros de Winnetou, mas não era fácil obter traduções francesas.

CS: Que achou deles?

PB: Gostei do facto de Karl May tentar transmitir valores. Winnetou lutou pela paz, pela liberdade e pelo respeito aos direitos humanos, tal como eu.

CS: Esteve preso à figura do chefe apache durante cinquenta anos. Até chamou à sua autobiografia “Winnetou e Eu”. Nunca se fartou de Winnetou?

Pierre Brice
PB: Não, deveria ficar farto porquê? Todos ao atores querem ter sucesso – e eu tive um sucesso enorme com Winnetou. Ainda tenho
os meus admiradores que são fiéis. Recebo tantas cartas e emails, enviados por jovens e crianças que conhecem os filmes de Karl May. Winnetou influenciou, sem dúvida, a minha vida. Antes de Winnetou interpretei vilões e assassinos que foram esquecidos após as exibições no cinema. Tinha acabado de iniciar a minha carreira em Itália e fui escolhido pela imprensa como o melhor ator do ano. Winnetou permitiu-me muitas coisas. O Comboio de Ajuda Alimentar de Pierre Brice em 1995, por exemplo. Só porque as pessoas estavam familiarizadas com Winnetou, fui capaz de angariar dois milhões de Marcos, para ajudar as pessoas, especialmente crianças na zona de guerra da antiga Jugoslávia.

CS: Karl May morreu há 100 anos. Ele foi um dos mais prolíficos e bem-sucedidos escritores da língua alemã, mas também um burlão e um condenado. Que imagem tem dele?

PB: Para mim, Karl May é um sonhador, tal como aqueles que devoraram os seus livros. Infelizmente, hoje em dia, é pouco lido pelos jovens. É uma pena, porque não sabem nada sobre os valores que distinguem os personagens de Karl May.

CS: May só viajou para os Estados Unidos em 1908, como turista, muito tempo após escrever “Winnetou”. Nunca conheceu Apaches. As suas histórias eram sobretudo fruto de lugares comuns e da sua imaginação?

PB: Está patente nos seus livros, pelo menos nas suas novelas de Winnetou, que não escrevia guias turísticos, mas contava histórias. O Oeste Selvagem oferece o cenário, mas o conteúdo é importante. Mais: Você mesmo disse que ele é um dos escritores mais bem-sucedidos da Alemanha. Na altura, não pareceu incomodar os leitores o facto de ele não conhecer a América quando escreveu os livros. Também não me incomoda.

CS: Karl May afirmou: “Sou realmente Old Shatterhand, e vi tudo.” Isto é ridículo ou audacioso?

PB: As pessoas que o conheciam sabiam que isto não era verdade. Ele era bastante pequeno e magro e fazer-se passar por Old Shatterhand era provavelmente ridículo. Mas ele não prejudicou ninguém, por isso não o descreveria como audacioso. Ele simplesmente tinha demasiada imaginação, o que não é desgraça nenhuma.


Trailer do filme "O Tesouro do Lago da Prata"
1962



Excerto do filme "Winnetou - Revolta dos Apaches"
1963







segunda-feira, 27 de agosto de 2012

JOHN WAYNE EM SÃO MIGUEL AÇORES - JUNHO 1963




John Wayne à saída do Teatro Micaelense,
Ponta Delgada 1963
[Foto do espólio da família Santos Figueira]

No dia 23 de Junho de 1963, pelas 20h20, atracava no então denominado Molhe Salazar em Ponta Delgada, um iate luxuoso com 288 toneladas e com 12 tripulantes chamado Wild Goose (Ganso Selvagem), cujo dono era a eterna estrela internacional do cinema, John Wayne.


                Foi o início de uma visita de quatro dias à nossa ilha, John Wayne e os amigos, a propósito desta visita, declararam que fora a leitura do livro do conhecido escritor americano de viagens e especialista em turismo Sidney Clark, “All the Best In Spain and Portugal” que os entusiasmara a incluir São Miguel no seu itinerário que tinha como destino final Espanha, onde Wayne iria filmar “O Mundo do Circo” com Rita Hayworth e Claudia Cardinale.



Filme "O Mundo do Circo" de 1964

                Durante a sua estadia, Marion Robert Morrison, nome de nascença de John Wayne (1907-1979), distribuiu simpatia à sua volta e não se coibiu de se juntar às verbenas de São Pedro no Relvão, onde dançou ao som dos ritmos da Orquestra de Teófilo Frazão. Visitou os principais pontos turísticos da ilha, nomeadamente as Sete Cidades, acompanhado por Victor Cruz, e as Furnas, a convite do cônsul americano de então, o Sr. William G. Keen.

                Também na companhia de Victor Cruz e do seu amigo e conceituado argumentista James Edward Grant, autor de vários filmes de Wayne – “Hondo”, “Inferno nas Alturas”, “Os Comancheros”, entre outros - visitou o Teatro Micaelense, onde foi recebido pelo Sr. Santos Figueira, Secretário da Sociedade Teatro Micaelense. Wayne e Grant assinaram o Livro de Ouro do Teatro. Na ocasião, James Edward Grant enfatizou que se sentia orgulhoso por “Álamo”, filme que escrevera, ter sido projetado numa sala tão categorizada. Realce-se que “Álamo” foi interpretado e realizado por John Wayne.

                Num serão em sua honra no Solar da Graça, John Wayne teve a oportunidade de conhecer o folclore micaelense através de uma atuação do Grupo Folclore de São Miguel, mas a noite seria longa dançando-se até de madrugada, animada pela música da Orquestra de Teófilo Frazão, que na ocasião, ofereceu a John Wayne uma composição da sua autoria chamada “Wild Goose”, precisamente o nome do iate do ator, cortesia que cativou sobremaneira John Wayne.

John Wayne ao leme do "Wild Goose"
                Hospedado no Hotel Infante durante a sua estadia em São Miguel, John Wayne deixou um rasto de simpatia por onde andou, como é exemplo maior, a forma como se incorporou nas Verbenas no Relvão, dançando e celebrando em verdadeira comunhão com o povo micaelense numa noite, sem dúvida, inesquecível para quem com ele privou.

                Às seis da manhã do dia 27 de Junho, o “Wild Goose” zarpou do Molhe Salazar, com pouca gente a assistir, devido à hora decerto, mas John Wayne, alto e poderoso na cabine do luxuoso iate, fez questão de se despedir destas poucas pessoas, acenando-as como a agradecer toda a cortesia que lhe foi dispensada. E como ele a mereceu, provando que as verdadeiras estrelas não precisam de se munir da arrogância para brilharem.


António Furtado da Rosa